PLANTAS ALIMENTÍCIAS NÃO CONVENCIONAIS NA ALIMENTAÇÃO E NA CULTURA DE AGRICULTORES FAMILIARES EM AMARGOSA-BAHIA
Plantas Negligenciadas e Subutilizadas, Práticas alimentares, Segurança Alimentar e Nutricional, Patrimônio genético.
Estima-se que, no mundo, exista uma oferta potencial de alimentos oriundos de uma rica diversidade de plantas. Entretanto, muitas espécies ainda são desconhecidas pela maioria da população e outras que eram consumidas por gerações antepassadas acabaram caindo em desuso, sendo atualmente denominadas de Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC). O consumo das PANC vem reduzindo em nível global, inclusive entre os agricultores familiares, considerados seus maiores conhecedores. Assim, este estudo buscou conhecer a existência e como as Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC) estão inseridas no contexto alimentar e cultural dos agricultores familiares em Amargosa, Bahia. Realizou-se estudo transversal, exploratório, com abordagem quantitativa e qualitativa, envolvendo quatro etapas: levantamento da existência de espécies de PANC; identificação das comunidades rurais onde viviam agricultores familiares conhecedores, consumidores (ou não) das PANC; visita domiciliar e realização de entrevista; coleta de material botânico. Foram identificadas sete comunidades rurais e entrevistadas treze agricultoras familiares. A maioria das entrevistadas (61,53%) era idosa, tinha o ensino fundamental incompleto e 46,15% recebia até um salário mínimo. Todas eram filhas de agricultores e trabalhavam na agricultura, há aproximadamente 53 anos. Em relação às PANC, foram identificadas 42 espécies, sendo 19 espontâneas, 17 cultivadas e 06 referidas como mista, encontradas principalmente em quintais. O consumo das plantas era corriqueiro nas comunidades rurais, ressaltando que as classificadas como frutas, eram consumidas in natura; as verduras e legumes apresentaram maior variedade e eram consumidas de diferentes formas, sendo as folhas a parte mais utilizada; as raízes e tubérculos eram consumidas cozidas, principalmente no desjejum; feijões e leguminosas eram substitutos do feijão carioca. Dentre os motivos apresentados para o consumo das PANC, destacaram-se: proporcionar sabor às preparações, apresentar ação medicinal e a qualidade dos alimentos naturais. A maioria das entrevistadas (76,93%) referiu não comercializar as PANC, justificando terem propriedade agrícola pequena; a produção ser destinada a subsistência da família; e as plantas apresentarem pouco valor econômico perante os produtos agrícolas de maior apelo comercial. Os conhecimentos sobre as PANC eram compartilhados junto à família. Conclui-se que as PANC faziam parte da alimentação das famílias e representava uma via de socialização comunitária, perpetuação de saberes, agregação de valores ao ato de comer e sustentabilidade no processo de produção. Entretanto, a comercialização era limitada, revelando a necessidade de divulgação e utilização das PANC, junto à população.