EPISTEMOLOGIA DA IGNORÂNCIA: SOBRE A NATUREZA DA IGNORÂNCIA PROPOSICIONAL
Epistemologia Analítica; Ignorância Proposicional; Ignorância não-factiva; Concepção Padrão; Concepção Nova;
Neste trabalho discuto a natureza da ignorância proposicional, a possibilidade não-factiva desse tipo de ignorância e a aplicabilidade dessa análise em alguns tópicos da epistemologia analítica. Minha pretensão é de, primeiramente, apresentar uma introdução a discussão entre duas alternativas relevantes que disputam a definição da ignorância, quais sejam, a Concepção Padrão e a Concepção Nova. Para a primeira, ignorância é ausência de conhecimento; para a segunda, ausência de crença verdadeira. Considerando essa divergência, cada uma dessas alternativas será exposta tendo em vista como definem a ignorância e as condições específicas para a ignorância proposicional. Além disso, uma contraposição entre ambas as concepções referentes à ignorância proposicional será brevemente apresentada a partir de alguns tópicos presentes no debate atual. Em segundo lugar, pretendo apontar que, diferentemente de como essas concepções de ignorância têm pressuposto, a ignorância proposicional não se reduz a estrutura “S é ignorante que P” ou variantes semelhantes a esta estrutura. Ao lerem a ignorância proposicional reduzida em termos de “S é ignorante que P”, essas concepções não fazem a melhor análise da ignorância proposicional. Isto porque, por um lado, geram um problema que se refere a uma possibilidade pouco trabalhada. Trata-se da possibilidade da ignorância não-factiva e o problema, como será mostrado, é que nessa redução há boas razões tanto para afirmar como para negar essa possibilidade. Isso se constitui, no mínimo, como uma tensão relevante que pode comprometer essas concepções e as análises realizadas a partir delas. Por outro lado, essa redução exclui ao menos um sentido geral e não necessariamente factivo de ignorância proposicional, o que nos priva de uma análise mais adequada da ignorância e de outros temas relacionados. Tendo esse problema e os seus desdobramentos em vista, apontarei para uma hipótese que tem o potencial de dissolvê-lo a partir da reformulação de como compreendemos a ignorância proposicional, que herda as vantagens das razões a favor e das razões contra a possibilidade da ignorância não-factiva e supera as objeções levantadas contra elas. Somado a isto, por fim, essa análise reformulada da ignorância proposicional será aplicada a alguns tópicos relevantes da epistemologia analítica que se relacionam essencialmente com a ignorância, mas que não tem sido suficientemente debatido nessa relação com a ignorância, quais sejam, a educação, a suspensão do juízo e a investigação. Nessa aplicação, estarei mirando um maior esclarecimento dessas relações e mostrar que são outros caminhos para se apontar para adequação dessa reformulação. Com isso, este trabalho visa, de maneira singela, contribuir com a difusão em língua portuguesa de uma discussão recente, mas em crescimento na epistemologia analítica, também como com o desenvolvimento teórico nessa área.