Vivências corporais e alimentares de mulheres negras, gordas e de periferia durante a pandemia de COVID-19 : Um estudo qualitativo
COVID-19, Socioantropologia da Alimentação;; Interseccionalidade; Gordofobia; Obesidade
A pandemia de COVID-19, lançou ao mundo urgências e ressignificações nas formas de ser, estar e atuar no mundo. Recomendações e decretos foram emitidos a partir da perspectiva de cuidado em saúde e vêm impactando as práticas cotidianas, entre elas, as práticas de cuidado com o corpo e com a alimentação. O fenômeno da pandemia, entretanto, afeta as pessoas de formas distintas, tendo em vista a grande diversidade de atravessamentos econômicos, políticos, culturais e identitários presentes na sociedade. Nesse cenário então, as mulheres negras, gordas e de periferias, aglutinam vivências marcadas tanto pela sobreposição e reelaboração de vulnerabilidades, bem como pela construção de movimentos de resistência e identidade. Foram realizadas seis entrevistas narrativas com mulheres que se autodeclaram negras, gordas e de periferias, da cidade de Salvador, com o objetivo de compreender como as mulheres negras, gordas e de periferias vivenciaram suas corporalidades e agenciaram as práticas alimentares durante a pandemia de COVID-19. O material foi posteriormente analisado, resultando como produto final a elaboração de dois artigos, o primeiro centrado nas vivências acerca das corporalidades e o segundo orientado pelas vivências acerca do cuidado e da alimentação durante a pandemia de COVID-19. Os resultados encontrados transitam pelo olhar interseccional de opressões, a iminência da morte por COVID-19 como importante agenciador das vivências corporais e alimentares; A dimensão da gordofobia como protagonista na percepção da própria identidade e sobre as particularidades das sobrecargas femininas durante a pandemia. As conclusões deste trabalho discorrem sobre a presença transversal e multidirecional das opressões estruturais nas vivências das mulheres negras gordas e de periferia, como um somatório de afluentes, confluindo numa caudalosa correnteza em direção à exaustão e adoecimento físico e mental. A existência da mulher negra, gorda e de periferia é, do princípio ao fim, nadar contra a corrente e o viver se pauta em desenvolver estratégias de sobrevivência e enfrentamentos. No entanto, os empoderamentos emergem, especialmente nas esferas coletivas dos ativismos como um relevante agente de resistência e promotor de cuidado em saúde.