SARAU LITERÁRIO NA ESCOLA NUMA PERSPECTIVA DECOLONIAL.
Saraus. Pedagogização dos saraus. Formação leitora.
Esta dissertação tem como perspectiva mostrar o modo como os saraus literários transgridem
o espaço da literatura na sala de aula, contribuindo para a formação de leitores e produtores de
textos literários a partir de uma prática pedagógica libertadora. A relevância e o interesse
científico dos achados são concernentes a alternativas metodológicas para o ensino de
literatura na sala de aula, que guardam relação com práticas vigentes no mundo extraescolar
dos saraus. Para sua realização, optou-se por uma pesquisa qualitativa voltada para a
pedagogia do sarau escolar – objeto da investigação. Assumindo uma abordagem dialógica,
referendada na pedagogia decolonial e em critérios etnográficos, o texto expõe diálogos com e
entre os sujeitos da pesquisa – professores, alunos e a própria pesquisadora – na busca de
compreensão das características e implicações do uso dos saraus como prática pedagógica.
Tendo como recorte empírico a observação e a análise de saraus realizados em escolas do
Recôncavo Baiano, constata-se a potencialidade pedagógica que as práticas saraulescas
trazem para a formação leitora, no âmbito literário, e para o estímulo à produção de textos que
buscam esse mesmo teor. A partir da percepção do caráter heurístico e libertador dos saraus
de rua, verifica-se também, com essa prática, a possibilidade de inserção de uma literatura
atual e não canônica nos espaços pedagógicos vinculados à escola, inclusive com o contato
estimulador e performático com poetas e rappers. Vale ressaltar que os saraus não chegam às
escolas como prática essencialista de um formato de rua. Guardando as dinâmicas e as
temáticas experimentadas nos saraus de rua, eles sofrem as necessárias adaptações contextuais
ao adentrar no espaço escolar, e encontram abrigo entre professores de diversas disciplinas,
especialmente de Língua Portuguesa. Sua característica axial é a garantia do protagonismo de
estudantes e professores, tornando-os autores e condutores de seu próprio processo de
desenvolvimento. Não existe, nesta investigação, a intenção de fixar metodologias ou ditar
modelos pedagógicos promissores, mas de inspirar os professores na busca de formas
alternativas de efetivação de uma educação transformadora, como prática de liberdade.