REVOLUÇÃO E REPRESSÃO, MARCAS NO CORPO E ALMA; POR QUE NÃO ALBERTINA TORRES? (1964-1978)
Memória; Autobiografia; Ditadura Civil-Militar; Gênero.
Os impactos dos longos anos de ruptura democrática no Brasil, têm despertado interesse considerável dos estudos históricos contemporâneos. Por sua vez, as possibilidades de fontes trazidas pela Nova História Política, têm sido frequentemente aplicadas no percurso da construção desse “passado”. Ao aprofundamos os estudos acerca da ditadura civil-militar brasileira, por intermédio da autobiografia, da história oral, dos registros íntimos e pessoais e documentos oficiais de origem repressiva, somos colocados em contato com a trajetória de Albertina Rodrigues, mulher baiana com alma de artista, companheira de Nelson Pires, que teve sua vida atravessada pelos desdobramentos do Golpe de 1964. Estudante de Belas Artes, suas performances artísticas eram marcas no seu dia a dia, até mesmo quando atuou no movimento estudantil e na luta armada, sendo presa e torturada no Rio de Janeiro. Inimiga do Estado, a “opção” pela clandestinidade e pelo exílio, era o que lhe restava para permanecer viva, romper suas próprias barreiras, suportar a distância do filho e as dificuldades enfrentadas em outros países, eram desafios a serem cumpridos na (re)descoberta de si. Assim, ao ouvir o chamado de Albertina, estaremos próximos a uma das vozes femininas que se insurgiram contra a repressão e em defesa da democracia, nos apercebendo das questões subjetivas e de gênero que permearam esse percurso. Deste modo, se torna mais uma voz que se levanta e nos mostra como as representações do passado podem apresentar marcas deixadas pela conjuntura política do Brasil, ao menos até 1985.