Da droga ilícita ao psicofármaco: a medicalização nos itinerários terapêuticos de jovens atendidos em um CAPSad de Salvador, Bahia.
Juventude. Drogas ilícitas. Psicofármacos. Itinerários Terapêuticos. Medicamentos. Medicalização.
O uso de drogas ilícitas é prevalente na população jovem e frequentemente se associa a situações de vulnerabilidade social. O tratamento para usuários de drogas é baseado em múltiplas abordagens psicossociais, sendo o encaminhamento para tratamento psiquiátrico e psicofarmacológico uma ocorrência comum; entretanto, não há evidências de que o tratamento medicamentoso seja indicado para quadros de dependência a maconha ou cocaína/crack. Para investigar como a medicalização afeta os itinerários terapêuticos de jovens usuários de drogas ilícitas, foi realizado um estudo de caso qualitativo em um Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPSad) de Salvador, Bahia. Foram conduzidas entrevistas semiestruturadas com 14 jovens atendidos no serviço e 7 profissionais de saúde. Adicionalmente, relatos e anotações de campo autoetnográficas foram realizadas pelo pesquisador principal, que também é psiquiatra em atuação no CAPSad estudado. Os dados foram analisados utilizando-se o modelo holístico para itinerários terapêuticos proposto por Trad, L. A escolha pelo tratamento sofreu a influência de múltiplos fatores contextuais, incluindo renda, situação da família, acesso a serviços de saúde e questões judiciárias. A maioria dos jovens já tinha iniciado tratamento psicofarmacológico antes de chegar ao CAPSad. A medicalização em muitos casos ocorreu através de uma substituição da droga ilícita, usada como medida de autocuidado, pelo medicamento psiquiátrico. A crença de que os psicofármacos atuam, direta ou indiretamente, sobre o desejo e a busca pela droga se fez presente no discurso dos entrevistados. O acolhimento por profissionais e a autonomia dos indivíduos em relação às escolhas pelo tratamento foram fundamentais para uma qualificação positiva das experiências de cuidado.