O NASF-AB CONTRIBUI PARA A PARTICIPAÇÃO SOCIAL DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA NA APS? SINERGIAS E DESAFIOS NA REALIDADE DE SALVADOR, BAHIA.
Pessoas com Deficiência; Atenção Primária à Saúde; Saúde da Família; Prática de Saúde Pública
As ações de atenção à saúde das pessoas com deficiência (PcD), ao longo da história, eram direcionadas e realizadas de maneira preferencial nos níveis secundário e terciário, impactando diretamente em uma das diretrizes do SUS, que é a integralidade do cuidado, uma vez que essa forma de organização de trabalho gera barreiras no acesso das pessoas com deficiência aos demais equipamentos de saúde. A implementação da Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência (RCPD) em 2012, configura-se como marco temporal que ratifica a necessidade de mudança no modelo de cuidado às pessoas com deficiência. Dentre os pontos de cuidado preconizados para a realização desse "novo fazer", destaca-se o cuidado às PcD no âmbito da Atenção Primária à Saúde (APS), sobretudo no âmbito da Estratégia Saúde da Família (ESF), que busca reorientar as práticas e ações de saúde de maneira integral e longitudinal, com baixa densidade tecnológica, tendo como base as necessidades reais de saúde das pessoas com deficiência. Em algumas realidades existe também o trabalho de equipes multiprofissionais de saúde, a exemplo dos Núcleos Ampliados de Saúde da Família e Atenção Básica (NASF-AB), que potencializam ainda mais esse cuidado. Contudo, ainda que seja possível verificar as potencialidades da APS para o cuidado integral de PcD no território, poucos são os estudos que se debruçam sobre as práticas de saúde produzidas na APS em relação a essa população pelos profissionais de saúde, inclusive profissionais de saúde que compõem o NASF-AB. Ademais, quando se pensa na realização de práticas de saúde numa perspectiva que promova a participação social das pessoas com deficiência, as respostas tornam-se ainda mais incipientes. Dessa forma, esta pesquisa teve como objetivo analisar a percepção dos profissionais do NASF-AB acerca das práticas de saúde que desenvolvem junto às pessoas com deficiência, numa realidade pouco estudada, que é a de Salvador/BA. Os resultados e discussão deste trabalho provocam a reflexão do quão ainda é difícil superar a permanência micropolítica do cuidado hegemônico direcionado à pessoa com deficiência, ainda que na APS, local potente para reorganização desse cuidado, pelas diretrizes que a baseiam. A totalidade dos entrevistados que trabalham nos NASF-AB estudos ligam a concepção de deficiência ao corpo, ainda que exista um tensionamento destes em direção às práticas baseadas na integralidade e participação social das pessoas com deficiência. Ainda que não seja possível verificar ações e práticas de saúde que sejam imbuídas numa perspectiva do Modelo Social da Deficiência, como grupos de vivências, ações no próprio território que visem a inclusão social, ao analisar o olhar dos profissionais de saúde sobre as reais necessidades de saúde das pessoas com deficiência, é possível observar certo deslocamento para o afastamento do reducionismo biomédico, que não são suficientes para reorientar as práticas de saúde, mas demonstra potencialidades.