EFEITOS DA PANDEMIA DE COVID-19 NAS HOSPITALIZAÇÕES POR CONDIÇÕES SENSÍVEIS À ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE, EM SALVADOR, BAHIA
A pandemia de COVID-19
A pandemia de COVID-19 apresentou impactos significativos na sociedade, influenciando fortemente a organização dos serviços de saúde e produzindo repercussões em diferentes indicadores de morbimortalidade. Nesse cenário desafiador, o distanciamento social foi uma ferramenta para contenção do crescimento da COVID-19. A Atenção Primária à Saúde em cenários de pandemia é basilar, na medida que as equipes de saúde estão estrategicamente posicionadas e a partir da vinculação territorial e reconhecimento da população adscrita é possível realizar intervenções oportunas. Nesse contexto, o presente estudo teve como objetivo avaliar o efeito da pandemia de COVID-19 nas Internações por Condições Sensíveis à Atenção Primária à Saúde, em Salvador - BA. Trata-se de um estudo ecológico, com dados públicos de hospitalizações disponíveis no Sistema de Informação Hospitalar do Sistema Único de Saúde (SIH-SUS). Foram analisadas as internações hospitalares ocorridas de 01 de janeiro de 2017 a 31 de dezembro de 2022, por todas as causas e aquelas cuja causa básica foram as condições sensíveis à atenção Primária à Saúde realizadas no município de Salvador. Bahia. Inicialmente, foi realizada uma análise descritiva baseada nas características das ICSAP (principais grupos de causa, faixa etária e sexo), no período do estudo, descrita a evolução das cobertura de APS em Salvador e identificados os principais marcos temporais na adoção de medidas de distanciamento social. Foram calculadas as proporções de internação por doenças sensíveis á atenção primária e por seus 19 componentes, bem como a proporção de utilização de leitos de UTI. Para avaliar o efeito da pandemia de COVID-19 e suas repercussões relacionadas as medidas de restrição de mobilidade e reorganização de serviços de saúde, foi realizada a análise de séries temporais interrompidas (ITS) que compara as tendências dos indicadores de hospitalização antes e depois do início da pandemia. Foram analisadas 854.525 hospitalizações, das quais 12,81% eram consideradas ICSAP. As ICSAP foram mais frequentes entre pessoas do sexo masculino, com idade inferior a cinco anos ou maiores de 70 anos. Observou-se redução importante na quantidade de hospitalizações no primeiro ano da pandemia (2020), no entanto a menor proporção de ICSAP só foi observada em 2021. Dentre o grupo de ICSAP, as internações por doenças cerebrovasculares estiveram na primeira posição em todos os anos do estudo e a proporção dessas internações se manteve relativamente estável em 2017 (21,48%) e 2019 (15,95%), apresentando crescimento importante em 2020 (21,48%) e 2021 (23,23%). Esse comportamento foi semelhante ao observado na variação percentual de hospitalização por insuficiência cardíaca. A proporção de hospitalizações por hipertensão apresentou redução considerável no período, alcançando 1,85% em 2121, voltando a crescer em 2022 (5,99%). A análise do uso de leitos de UTI entre as ICSAP evidenciou que a partir de 2020 mas em 2021 houve aumento considerável da gravidade dessas causas, especialmente as doenças cerebrovasculares, pneumonias bacterianas e insuficiência cardíaca, além de hipertensão. Ao passo que a proporção de ICSAP reduziu imediatamente após março de 2020, a proporção de utilização de leitos de UTI aumentou substancialmente após esse período. A análise de séries temporais interrompidas apontou que a pandemia de COVID-19 e suas repercussões modificaram as tendências pré-pandemia da quantidade de ICSAP e suas proporções, provocando redução desses indicadores de março de 2020 a junho de 2021, voltando a crescer após esse período. No entanto, para o indicador de quantitativo de ICSAP que necessitaram de leitos de UTI, a tendência de estabilidade pré-pandemia foi seguida por um aumento substancial após março de 2020 e posterior queda após dezembro de 2021. Os resultados desse estudo apontam que a pandemia de COVID-19 provocou mudanças no perfil das hospitalizações, com aumento da gravidade das ICSAP. Além disso, é possível assumir que as consequências da pandemia ainda deverão ser observadas no médio e longo prazo, haja vista que as repercussões da pandemia ainda não se materializaram em aumento de internações na população de SalvadorBA. SUMÁRI