PROXIMIDADE E CONFISSÕES: EXPERIÊNCIAS EM SITUAÇÃO DE RUA E A CONSTRUÇÃO DE SI
Palavras-chave: histórias de vida; experiência em situação de rua; Centro Antigo de Salvador;
“identidade narrativa”; “cuidado de si”.
O estudo se configura como pesquisa qualitativa, descritiva e interpretativa, envolvendo a
produção de Histórias de Vida de quatro narradores que vivem ou viveram em circunstâncias
de rua no Centro Antigo de Salvador. O Centro Histórico da capital Baiana - área tombada
pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e declarada Patrimônio da
Humanidade pela UNESCO -, e suas adjacências, que representaram as primeiras zonas de
expansão da cidade, atualmente são marcados pela desigualdade e diversidade
socioeconômica e cultural. Ao longo das quatro últimas décadas, as intervenções urbanísticas
no local têm caráter excludente, da pobreza ou indigência, acirradas pela especulação
imobiliária das zonas centrais, com processos de gentrificação. A assistência social que
envolve a população em situação de rua em Salvador, em sua maior parte concentrada nas
ruas do Centro Antigo, encontra dificuldades em razão da prevalência da lógica pastoral e da
tutela, além da contradição dos dados e levantamentos existentes: enquanto os órgãos ligados
à Administração Pública apontam o quantitativo aproximado de 3.500 pessoas, estudos
promovidos por instituições de Promoção Social chegam a cartografar 17 mil sujeitos em
circunstâncias de rua. A visão social acerca deste segmento populacional, perpassada por
preconceito e estigma, considerando-os inadequados, marginais ou subalternos, é confrontada
pelas memórias e promessas daqueles sujeitos narradores. Das histórias de vida emergem
gestos de engajamento, de resistência e de “cuidado de si” nos processos de construção das
suas identidades (narrativas), capazes de responder às demandas da modernidade tardia por
reflexividade e por uma identidade política.