DANÇANDO MANGUES E PESCANDO HISTÓRIAS: uma etnografia sobre os conhecimentos e as práticas em torno da produção de moquecas de aratu
Etnografia, Etnobiologia, Gastronomia, Interculturalidade, Comunidades Pesqueiras Artesanais, Aratu
Esta etnografia intentou compreender quais são os conhecimentos e práticas imbricados na produção das moquecas de aratu em três comunidades pesqueiras do Litoral Norte da Bahia, Barra do Itariri, Siribinha e Poças, e como tais conhecimentos podem servir de base para a construção de diálogos interculturais. Acompanhei os processos relacionados à produção das moquecas de aratu para identificar quais são os entes relevantes nessa prática; analisei quais são os aspectos etnobiológicos presentes na pesca e no processamento de aratu nas comunidades; busquei compreender as diferenças na produção das moquecas ao longo da história das comunidades; e refleti de que forma narrativas etnográficas poderiam contribuir para o diálogo entre conhecimentos locais e escolares e as interações interculturais na educação escolar local. Os dados foram produzidos entre setembro de 2022 e setembro de 2023, nas três comunidades, por meio de observação participante, entrevistas abertas, entrevistas biográficas e entrevistas direcionadas aos aspectos etnobiológicos e gastronômicos. O percurso da pesquisa indicou que diferentes modalidades de pesca do aratu implicam diferentes relações entre humanos e não humanos e que as categorias de pesca estão sendo reinventadas à medida que novas invenções tecnológicas estão surgindo. Modos diferentes de se relacionar estão também estabelecidos no processamento do aratu. O olhar das marisqueiras direcionado somente para o corpo do crustáceo, no ato da quebra, apontou alguns aspectos biológicos nos quais pudemos identificar convergências e divergências entre os conhecimentos científico-acadêmicos e os conhecimentos locais sobre a taxonomia, mudança de cor, plasticidade fenotípica e camuflagem dos caranguejos. No que se refere à moqueca de aratu, as entrevistas realizadas nas comunidades mostraram que as mudanças ocorridas na sua produção e no seu consumo implicaram, para além de mudanças significativas na cultura alimentar, numa relação de exploração dos manguezais ainda mais intensa. Por fim, à medida que o seu conteúdo veicula com profundidade os conhecimentos e as histórias existentes nas práticas de pesca e nos hábitos alimentares das comunidades pesqueiras estudadas, essa narrativa etnográfica pode contribuir para o diálogo de conhecimentos e educação intercultural no contexto da escola local.