SENEGALESES DAS IRMANDADES TIDJANIYA, MURIDE E DO RAMO BAYE FALL EM MACEIÓ/AL: MOBILIDADE, IDENTIDADE E RELIGIOSIDADE
Migrações. Mobilidades. Senegaleses. Identidade. Islã.
As migrações transnacionais são uma das características estruturantes do Senegal. Motivados principalmente pela busca por oportunizar um bem-estar para as suas famílias, os senegaleses migram para trabalhar em diversos países, tanto do continente africano, quanto europeu (Itália, França, Espanha, Alemanha) e americano (Estados Unidos da América, Argentina e Brasil). O sucesso das mobilidades dos senegaleses pelo mundo perpassa fundamentalmente pela construção e reprodução de redes de solidariedade, visando assegurar tanto a informação das rotas a seguir e as pessoas com quem negociar quanto o acolhimento nos países e cidades de trânsito e de destino. Nessa acolhida eles são acomodados nas residências de seus conterrâneos e, não raras vezes, recebem dinheiro ou mercadorias para começar a trabalhar e se estruturarem. Essa “dádiva”, nos termos de Mauss (2017), é passada à frente para os próximos que virão e/ou que precisem, sendo este um ponto chave para este sucesso. Nesse debate, há o importante papel dos migrantes e as experiências vivenciadas por eles em todos esses espaços da mobilidade senegalesa. Dessa forma, esta pesquisa tem como ponto central de análise a vivência dos senegaleses em Maceió/AL e, principalmente, como meus interlocutores mantêm e fortalecem suas identidades em um contexto de migração. Mobilizando e utilizando os conceitos de mobilidade, identidade, religiosidade e redes, aliados à pesquisa etnográfica, articulando observação direta, história oral e iconografia/fotografias, foi feita uma reconstrução das trajetórias biográficas dos migrantes senegaleses (meus interlocutores) desde suas vivências no Senegal, passando pelas motivações para migrar e os caminhos percorridos até a chegada em terras alagoanas e, assim, compreender os espaços da mobilidade como “espaços vivos” que moldaram e foram moldados pelos meus interlocutores. Em seguida, foram analisados os espaços de sociabilidade, como as residências, os locais de trabalho e diversos outros espaços cotidianos de interação, para assim observar as estratégias adotadas para se conquistar os clientes, como: a simpatia, a paciência e a resiliência somadas às razões para escolherem morar perto do local de trabalho. Esses espaços de interação são marcados tanto por relações afetivas como conflituosas com a população local e nesses “palcos” de interações também ocorrem situações de racismo e xenofobia. Por conseguinte, a religião é outra particularidade entre os senegaleses, pois todos são praticantes do islã que é vivenciado em irmandades religiosas e essa vivência espiritual aliada ao comunitarismo são características marcantes que são reproduzidas em Maceió. A pesquisa revela que as celebrações religiosas e o ato de comerem juntos constituem as formas utilizadas pelos meus interlocutores para “recriarem” o Senegal em Maceió, sendo esses momentos comunitários pontos chave para a manutenção e fortalecimento da identidade dos senegaleses em terras alagoanas.