NÊNGUA VÓ: O VENTRE QUE PARIU O TEMPO
Ancestralidades afrodiaspóricas; antropologia e arte; performance.
Este trabalho consiste em uma investigação sobre ancestralidades afrodiaspóricas
a partir da narração das histórias de quatro gerações de mulheres negras, pertencentes a
uma família de viveu no período pós escravista na fronteira entre o Brasil e o Uruguai.
Tendo partido de uma pesquisa antropológica e propondo-se a uma escrita acadêmica
formal, este trabalho transcendeu tais formas em direção à escrita criativa, sendo
alimentado por uma imersão na arte performática. A persona que inicialmente narra – e
sobre a qual se narra – se chama Nêngua, palavra de origem kikongo que constitui uma
metáfora para o papel ocupado pelas mulheres negras frente a suas comunidades na
diáspora. Trata-se de entender quais estratégias coletivas foram construídas pelas pessoas
negras em diáspora e de que forma as mais velhas concederam cuidado, acolhimento e
orientação a suas comunidades em situação de escravização e/ou redesenhando propostas
de liberdade após a abolição formal da escravidão. Sugiro que quando as ancestrais são
as minhas próprias ancestrais, o desafio é ético e poético: como narrar sem retirar-lhes
outra vez a dignidade e o direito a terem sua própria palavra? Este é um trabalho que está
entre fronteiras: a arte e a antropologia, formas distintas e possíveis de contar uma história
difícil, que ainda sangra e segue a caminho de sua cura, entre Brasil e Uruguai, no seio
da própria diáspora.