MARIA MILZA:
HISTÓRIA DE VIDA E VESTÍGIOS DE UMA SANTA NEGRA NO SERTÃO DA BAHIA
Palavras-chave: curadoria comunitária, santa sertaneja, arte afro brasileira, museologia social, mulheres negras, hermeneutica negra feminista.
O presente trabalho apresenta um processo de investigação da memória de mulheres negras a partir da história de vida de Maria Milza Santos Fonseca, conhecida como Mãezinha, uma mulher negra e sertaneja natural do Povoado de Alagoas zona rural do município de Itaberaba, na Bahia e que é popularmente reconhecida como uma santa. Para tanto é utilizada como metodologia de escrita a etnografia com a apresentação de narrativas polifônicas acerca da vida de Maria Milza, construídas no processo de escuta e troca com as pessoas que são suas devotas; fiéis e romeiras. A partir da interpretação das narrativas à luz das teorias e metodologias do feminismo negro, museologia social e antropologia da religião, a pesquisa aponta para um processo de sentido e forma de produção artística afrobrasileira a partir de uma hermeneutica negra e feminina baseadas em processos encantatórios e que conceitualmente a autora classifica como curadoria comunitária. Enviesando gênero, raça e território, é apresentado como método processual curatorial as práticas das romarias que acontecem de forma recorrente e, notadamente, a produção de uma coleção museológica de objetos artísticos por meio dos ex-votos. Baseado nas experiências que explicam vida e razão humana para pessoas negras, bem como, sentido e forma de produção artística oriundas das experiências de vida, entrelaçadas na representação de uma divindade negra e feminina, justifica-se o mover-se das romarias como performance e prática curatorial. A escrita se aproxima das cosmologias e cosmopoéticas africanas enquanto sustento para o conceito de curadoria comunitária, a partir do fazer coletivo que tem o tempo enquanto manifesto dos corpos-milagres-testemunhas.