DE ENQUADRAMENTOS A ACONTECIMENTO: YÊDAMARIA OLIVEIRA, UMA ARTISTA VISUAL ESPIRALADA EM SEU PRÓPRIO TEMPO
Yêdamaria Oliveira, enquadramentos, artes visuais, olhar.
Nesta pesquisa investigo na trajetória da Yêdamaria Oliveira (1932-2016) e, em seus pontos de imersão artística, os efeitos danosos causados pelas múltiplas dobraduras do racismo e sexismo, que ocultam enquadramentos imagéticos para controlar e reduzir as nossas participações, enquanto sujeitas e sujeitos descendentes de uma diáspora africana, na sociedade brasileira. Utilizando o entrecruzamento dos relatos das experiências vividas da artista enquanto mulher negra em trânsito, ou em fuga silenciosa, busco compreender a partir dos seus saltos que rejeitam enquadramentos e revistas comuns aos corpos negros, principalmente aos corpos das mulheres negras, como movimentos de fugas ininterruptas tornaram-se dispositivos de sobrevivência, ferramentas ancestrais que auxiliam os nossos saltos. Aqui, escrever fundamentada no que ouvi, “[...]um museu só de nêgo? Mas quem nêgo foi pá tá ni um museu?” e, como um corpo negro auditivo-receptivo-tradutor, transformou-se em um contrapasso a esse olhar imperial, colonial, que nos enclausura. Utilizando as narrativas como dispositivo epistêmico-metodológico sobretudo para o centramento dessa artista enquanto criadora, considero o papel
aglutinador da arte fundamental para a materialização do pensamento em arte, possibilitando a criação de outros imaginários e pontos de vitas, inclusive para além da própria “natureza-morta”.