A agência política do Candomblé: caminhos de mediação entre o terreiro e o estado (2010-2020)
Candomblé; agência; ethos político; infrapolítica
A proposta dessa tese é refletir sobre os caminhos de mediação política do povo de santo, desdobrando os conceitos que organizam o ethos político do Candomblé, como ontologia e agência múltiplas, bem como os princípios autoritativos dessa ação política, baseados nos conceitos de habitus religioso e sociopolítico, que conferem autoridade e o exercício do controle político e liderança da comunidade de terreiro. Através de dois textos etnográficos, produzidos em trabalhos de campo realizados em diferentes momentos apresentamos duas experiências de mediação política do povo de santo com os poderes públicos brasileiros: a Oficina para Elaboração de Políticas de Cultura para Povos Tradicionais de Terreiro (2011-2012) e os processos de tombamento estadual e federal do Terreiro Tumba Junsara como patrimônio cultural (2016-2018). Nessas duas experiências, que se conectam na linha temporal de implementação de uma agenda de políticas de cultura para comunidades de terreiro, são debatidos como os modos de agir político dos terreiros estão relacionados à existência de redes de sociabilidade, às suas formas de comunicação e ação “não-evidentes” (os discursos ocultos e infrapolíticos), e ao estabelecimento de conflitos e alianças (acionados a partir de estratégias de promoção de empatia e de sinestesia).
A partir desse referencial, a tese propõe um olhar sobre a interlocução entre o campo político do Candomblé (interno e entre as comunidades de terreiro) e o campo da política pública, observando as reelaborações e adequações, provocadas por esse diálogo, nas noções de ortodoxia religiosa e organização social das comunidades de Candomblé.