ESTADO E PODER TRADICIONAL NA GUINÉ-BISSAU: UMA ANÁLISE DA (RE)INSERÇÃO DOS LÍDERES TRADICIONAIS DE CAIÓ NO CENÁRIO POLÍTICO E ADMINISTRATIVO (1991-2020)
Estado. Poder. Autoridades Tradicionais. Guiné-Bissau.
Este trabalho analisa a relação entre o Estado e as autoridades tradicionais no período a seguir à independência na Guiné-Bissau, buscando identificar os mecanismos pelos quais esses dois atores criam e recriam o panorama político e administrativo. A atitude dos governos guineenses para com as autoridades tradicionais não tem tido um único viés – ganhou dinâmicas específicas em cada contexto. Nas primeiras décadas, o governo afastou as autoridades tradicionais e diminuiu a sua influência no panorama político e administrativo do país. Num segundo momento, ou seja, de década 1990 aos dias que correm, as lideranças políticas tradicionais voltaram a chamar atenção dos governantes e partidos políticos. No discurso oficial, a revitalização das lideranças tradicionais se resulta do reconhecimento da sua importância na manutenção do equilíbrio social; descentralização política e a consolidação do desenvolvimento local. No entanto, faz-se necessário atentar a outros fatores, tais como a fraca presença do Estado nas zonas rurais, o que resultou numa maior aproximação entre as autoridades tradicionais e a população local; a relação multidimensional que desenvolvem; e a questão do cálculo racional de vantagens e desvantagens feito pelas duas partes – se para as lideranças tradicionais a aproximação constitui uma oportunidade para participar do poder central ao nível local, para os partidos políticos, ela representa uma oportunidade de busca por aliados políticos mais legítimos.