O PODER DO AMOR: POLÍTICAS DE AFETIVIDADE NA POESIA DE LÍVIA NATÁLIA
Lívia Natália. Políticas da afetividade. Políticas do amor. Ausência.
As políticas do amor e de afeto constituem um movimento político que no âmbito da poética de Lívia Natália forjam sociedades do amanhã. Visando explorar esse aspecto, empreendemos uma crítica literária e cultural a partir da abordagem bibliográfica de caráter qualitativo que possibilitou ampliar as discussões sobre desamor, autoamor e solidão para além dos limites dos versos. O corpus selecionado é composto de três obras, a saber: Água Negra e Outras Águas (2017), Correntezas e outros estudos marinhos (2015) e Dia bonito pra chover (2017), devido à proximidade temática. A investigação foi realizada com o intuito de compreender o que o amor representa no contexto da poética da escritora baiana, bem como identificar as possíveis conexões da temática com a questão racial e de gênero. Tendo isso em vista, à medida que o estudo avançava, pudemos observar que a poeta mobiliza a imagem da ausência para problematizar o desamor no qual o sujeito poético estava envolto, mas que, na verdade, simboliza também a experiência de pessoas negras, cuja afetividade esteve e continua sendo alvo de interdição de uma estrutura sociocultural racista. Conforme revelou a pesquisa, os resquícios do regime escravagista impactam a vida dos afrodescendentes em todos os ângulos, inclusive no campo da afetividade, porque ainda não somos vistos como merecedores de amor. Em virtude disso, a poeta promove em seus poemas políticas de afetividade, que consiste em um conjunto de proposições para o desenvolvimento do autoamor e resgate, conservação e construção de elos afetivos que possibilitem equilíbrio emocional e psicológico. Além disso, fomenta políticas do amor, que segundo bell hooks (202) diz respeito as ações que podem mudar o status quo, ou como assinala Vinícius Silva e Wanderson Nascimento (2019), forjar a sociedade do amanhã.