Escreve, Carolina! Resiste, Carolina!
Tessituras da escrita de resistência
Carolina Maria de Jesus; Literatura Negra; Escrita de Resistência
À revelia das operacionalizações do silenciamento exercidas pelas estratégias de manutenção
do poder hegemônico, insubmissas vozes literárias têm imbricado sentidos de resistência à
escrita que concebem, rompendo domínios impostos para os quais a invisibilidade dos seus
corpos-textos é conduzida. Não raro, estudos de crítica literária, demonstram entender a
escrita como arma ou instrumento de resistência. Este trabalho, contudo, investiga a escrita
enquanto gesto, ato em si do resistir, concatenado a modos do viver. Nesse sentido, análises
de dados biográficos e escritos da vasta produção da escritora e intelectual Carolina Maria de
Jesus são realizadas na busca por tentar compreender como modos de resistência,
circundados pelos alcances, limites e paradoxos dessa mulher negra, concatenam-se com sua
escrita literária. Para tanto, reflete-se sobre o nascedouro de sua escrita (JESUS, 2015), assim
como sobre as escolhas estéticas e discursivas de Carolina Maria de Jesus enquanto sujeit[a]
étnic[a] do discurso (CUTI, 2010), que transitam entre o rebuscamento vocabular e o
pretuguês (GONZALEZ, 2020). Buscando entender quais seriam as perspectivas e os
sentidos de resistência performados na escrita, as discussões dialogam com as concepções de
quilombo, enquanto instituição de resistência (NASCIMENTO, 2006) e do Quilombismo,
enquanto ideologia de resistência (NASCIMENTO, 1985). Percorrer esses caminhos,
conduzidos por escritos de Carolina Maria de Jesus, como uma espécie de cartografia,
fomenta a construção do conceito de escrita de resistência. Uma subversiva dicção que se
delineia na tessitura e na escrita do texto literário, projetando não apenas perspectivas
combativas; que, articulando aspectos estéticos e éticos, traduz de forma pujante a
racionalidade, a desobediência e a reivindicação de direitos, dentre eles o de escrever; e que,
empreendida sobretudo por corpos diaspóricos femininos, nos faz pensar a escrita como
materialidade de existências resistentes.