Literatura e Educação Linguística: um passeio autoetnográfico pela práxis entrelíngue de um professor em formação
PROFICI, Idiomas sem Fronteiras, NUPEL, educação linguística, ensino de literatura, colonialidade linguística
Nesta dissertação, abordo os entrelaçamentos possíveis da literatura com o ensino de língua inglesa, levando em consideração os desafios contemporâneos vivenciados por novos professores de línguas, que precisam lidar com variados contextos de atuação e públicos (Botelho, 2017), a exemplo da pressão do mundo do trabalho (British Council, 2014), o multilinguismo frente a uma hegemonização da língua inglesa (Achebe, 2009; Thiong’o, 1986), além das dinâmicas de se ensinar uma língua europeia em face do colonialismo e colonialidade linguísticas, expressos por barreiras epistemológicas, ideológicas e pedagógicas (Muniz, 2016; Kumaravadivelu, 2003, 2006). Nessas circunstâncias, analiso a minha experiência entrelíngue como monitor de inglês no Programa de Proficiência em Língua Estrangeira para Estudantes e Servidores da UFBA (PROFICI), que proporciona à sua comunidade acadêmica a oportunidade de aprender outras línguas, a saber, alemão, inglês, francês, espanhol, italiano, japonês e yorùbá além do português língua estrangeira, e, aos licenciandos e pós-graduandos dos cursos de letras, a experiência de participar do processo de ensino de uma língua estrangeira, servindo como um laboratório de formação docente (Pereira, 2017), e no programa Idiomas sem Fronteiras, que tem o foco de expandir as oportunidades acadêmicas dos participantes, buscando facilitar a comunicação e a mobilidade internacional entre instituições de ensino superior. Apresento também uma “virada linguística” experienciada no NUPEL, o Núcleo Permanente de Extensão em Letras, onde passei a atuar como professor em formação de língua francesa. Deste modo, o objetivo deste trabalho é compreender como me valho dos meus repertórios de leitura de textos literários no que tange a (não-) escolha e implementação de textos literários como uma possibilidade de recurso didático (Brun, 2004; Mota, 2012; Pereira, 2017; Pereira, 2019; Mota-Pereira, 2022; Mota-Pereira, 2024) dentro das aulas de línguas. A partir dessas perspectivas, faço a análise dos planos de aulas dos três programas supracitados, bem como do material didático adotado, o livro-texto Interchange (Richards, 2017a, 2017b, 2017c) e o Cosmopolite (Hirschsprung; Tricot, 2017a, 2017b), além de apresentar duas propostas baseadas em textos literários, para explorar possíveis caminhos de fuga através da literatura (Bona, 2017). A metodologia envolve a pesquisa autoetnográfica (Méndez, 2013; Hughes; Pennington, 2017; Mota-Pereira, 2022), para compartilhar e analisar as minhas experiências como aprendiz de línguas e monitor dos programas e a pesquisa em documentos oficiais do PROFICI, Idiomas sem Fronteiras e NUPEL, como planos de aula e materiais didáticos adotados. Devido ao caráter social do estudo aqui proposto e da inserção da perspectiva e olhar do pesquisador no seu objeto de análise, o viés metodológico adotado será sustentado pela pesquisa de cunho qualitativo interpretativista (Denzin; Lincoln, 2006), autoetnográfico (Méndez, 2013; Hughes; Pennington, 2017; Mota-Pereira, 2022) e documental (Fonseca, 2002; Kripka; Scheller; Bonotto, 2015). Para isso, discorro sobre o status da leitura, em especial da literatura, no Brasil e nos métodos de ensino de língua inglesa, chamando a atenção para seu uso em sala de aula em face do colonialismo e da colonialidade linguística (Fanon, 2008; Achebe, 2009; Thiong’o, 1986) no que tange às possibilidades de falar a língua inglesa no mundo atual, às contribuições do pós-método (Kumaravadivelu, 2003, 2006) e às provocações de uma educação linguística (Souza; Hashiguti, 2022) atenta aos contextos socioculturais dos aprendizes, permitindo desenvolver estratégias de ensino mais reflexivas e críticas e promovendo o uso de textos literários como recursos didáticos que desafiam as barreiras coloniais e valorizam a pluralidade cultural.