A variação do /s/ em coda silábica no século XX e XXI na comunidade afro-brasileira de Helvécia-Ba
/S/ pós-vocálico. Variação. Tempo real. Comunidades afro-brasileiras
No Português Brasileiro, o fonema /S/, em posição pós-vocálica, apresenta uma realização variável, como demonstram estudos de Hora (2003) e Brescancini (2004). Além disso, trabalhos realizados em comunidades afro-brasileiras, como o de Santos (2012) em HelvéciaBA, e Almeida (2019) em Cinzento-BA e Sapé-BA, também mostram a variação desse fonema, destacando a intensidade do apagamento. Santos (2012) aponta um quadro de mudança em progresso, nos termos de Labov (2008 [1972]), indicando que os mais idosos são os que mais apagam a consoante, enquanto os mais jovens preferem a variante alveolar. Assim, considerando os resultados de trabalhos anteriores, especialmente o de Santos (2012), que analisou dados colhidos na década de 2000, levantamos a questão acerca de como se apresentam os padrões de variação na comunidade a partir de uma análise em tempo real de curta duração com dados colhidos quase 30 após as primeiras incursões na comunidade feitas por Lucchesi e Baxter. Assim, o objetivo desta pesquisa é analisar o /S/ em coda silábica na comunidade afro-brasileira de Helvécia em tempo real e em tempo aparente. Para este trabalho, foram analisadas 2.185 ocorrências de /S/ pós-vocálico na comunidade. As entrevistas que serviram de base para a pesquisa foram coletadas por dois pesquisadores, sendo 4 das 12 entrevistas do corpus construído em 2016 pelo então doutorando Welton Rodrigues Santos pela Universidade Federal Fluminense e 8 do corpus constituído em 2019 pela então doutoranda Luana Lamberti pela Ohio State University. Os dados foram extraídos da fala informal de seis homens e seis mulheres, naturais da localidade, escolhidos aleatoriamente de acordo com três faixas etárias: faixa I, de 20 a 40 anos; faixa II, de 41 a 60 anos; e faixa III, mais de 60 anos. As ocorrências foram submetidas à análise estatística do software estatístico R, na interface RStudio. Os resultados obtidos, em comparação com os de Santos (2012), mostram um aumento no uso da variante alveolar e uma redução do apagamento, da variante palatal e da aspiração. Nota-se também que os falantes das faixas etárias I e II utilizam mais a variante alveolar, enquanto o apagamento e a variante palatal aparecem mais na fala dos falantes da faixa etária III. Observa-se ainda que quanto menor o nível de escolaridade, maior a tendência de apagamento da consoante e o uso da variante alveolar. Em relação ao sexo, observa-se que as mulheres usam mais a variante alveolar, enquanto o apagamento é mais comum na fala dos homens.