AS ESTRATÉGIAS DE RELATIVIZAÇÃO NO PORTUGUÊS POPULAR DE SALVADOR
Português popular de Salvador. Orações relativas. Polarização sociolinguística. Contato linguístico. História sociolinguística do Brasil.
Esta pesquisa investiga as estratégias de relativização no português popular de Salvador, com base na hipótese da transmissão linguística irregular (Baxter; Lucchesi, 2009), da polarização sociolinguística (Lucchesi, 2015a) e da hierarquia da acessibilidade (Keenam; Comrie, 1977), e com o aporte teórico-metodológico da Sociolinguística Variacionista (Labov, 2008 [1972]). Ao longo da história linguística brasileira, os contatos linguísticos entre o português e as línguas indígenas e africanas tornaram o português brasileiro uma variedade nacional com características próprias, exibindo as marcas desses contatos sobretudo nas suas vertentes populares. Salvador, como uma das capitais que mais recebeu contingentes africanos e que atraiu pessoas do interior no processo do êxodo rural ocorrido no século XX, desponta, assim, como uma cidade onde se pode evidenciar os efeitos desses contatos linguísticos. Nessa direção, foram analisadas as orações relativas em duas localidades que compõem o chamado português popular de Salvador, Itapuã e Lauro de Freitas, tendo quatro variantes na variável dependente: a estratégia neutra, a cortadora, a padrão e a resumptiva. Os resultados mostraram uma ampla realização da estratégia neutra (70,4%) em posições não preposicionadas, confirmando a hierarquia da acessibilidade (HA). A posição de sujeito e de objeto direto se mostraram como as mais acessíveis à relativização, com 49% e 23% de frequência, respectivamente. Já a posição de genitivo tem uma baixa ocorrência (0,7%), conforme previsto na HA. Nas relativas preposicionadas, o uso massivo da estratégia cortadora (90,5%) pode indicar um efeito do contato entre línguas, bem como a baixa ocorrência da estratégia padrão (8,5%). A estratégia resumptiva, por seu turno, embora tenha uma baixa ocorrência (1%) é favorecida mais por fatores estruturais do que sociais. Na comparação com outras variedades baianas, o continuum rural-urbano (Bortoni-Ricardo, 2011 [1985]) não foi totalmente confirmado com esses dados, exceto pela queda no uso da cortadora à medida que se avança das comunidades mais isoladas para as menos isoladas.