As duas faces das representações de plural no português da Bahia: uma análise geossociolinguística cognitiva a partir do Projeto Atlas Linguístico do Brasil (ALiB)
Plural do português da Bahia; Dialetologia; Sociolinguística; Teoria de Exemplares; Projeto ALiB.
Esta tese surgiu da necessidade de compreender-se a relação entre a ausência de marcação de plural na própria lexia (não marcação) e a eventual migração entre padrões de plural na representação mental do grupo de lexias em potencial contexto metafônico, com terminação em -ão e em -au, -éu, -al e -el, sobretudo em (sub)grupos cuja pluralização esperada não seria a mais frequente para seu grupo morfológico ou em lexias com frequência de ocorrência baixa, logo a representação de plural no léxico mental seria formada por duas faces que se retroalimentam a partir de informações probabilísticas armazenadas na memória. Na primeira frente de investigação, conferiram-se as diferenças entre as prescrições de plural para esses grupos na norma padrão de Portugal e do Brasil a partir de manuais de gramática e ortografias escritos por portugueses desde 1536 e por brasileiros a partir de 1806. Dessa investigação, constatou-se que aspectos de ordens diatópica e diacrônica influenciaram diretamente na prescrição de cada país, sobretudo a partir do início do século XIX, bem como se notou que as normas vigentes prescritas mesmo por gramáticos de uma mesma nacionalidade apresentavam critérios fundamentados em perspectivas variadas da língua culta. Na segunda frente de investigação, com base em pressupostos teórico-metodológicos da Dialetologia (Rossi, 1967; Chambers; Trudgill, 1994; Cardoso, 2010), da Sociolinguística (Weinreich; Labov; Herzog, 2006[1968]) e da Teoria de Exemplares (Bybee, 1985, 1988, 1991, 1996; Johnson, 1997; Pierrehumbert, 2001; Bybee, 2002, 2007), conferiu-se o fortalecimento da representação mental de determinados padrões de plural e sua correlação com as variáveis ordem de realização do plural de uma mesma lexia, frequência de ocorrência, lexia, mesorregião da Bahia, amostra/ano, faixa etária, nível de escolaridade, nível de contato com o público no mercado ocupacional e grau de monitoramento. Na impossibilidade da aplicação do teste de regressão logística para todos os (sub)grupos, considerando as distribuições dos dados nas duas faces da representação de plural separadamente e do significativo número de variáveis previsoras controladas, aplicou-se o teste qui-quadrado por meio da Plataforma R (R Core Team, 2018). Dessa forma, foram controladas lexias desses grupos presentes na amostra do Projeto Atlas Linguístico do Brasil e no Questionário de Produção e Percepção – este aplicado quase duas décadas depois daquele – totalizando uma amostra geral com 124 informantes nativos de 22 municípios da Bahia, distribuídos em suas sete mesorregiões. Desse controle, mercem destaques as constatações da correlação entre o fortalecimento da não marcação entre as lexias com frequência de ocorrência baixa e o consequente enfraquecimento de outros padrões de plural para esses itens na representação mental dos informantes bem como, de forma geral, constatou-se a implementação de mudanças de alguns padrões de plural de algumas lexias, uma redução da não marcação e o fortalecimento da marcação dupla, de -ões e -is, entre os moradores do perímetro litorâneo, com maior contato com o público em ambiente de trabalho e maior nível de escolaridade bem como em contextos de maior grau de monitoramento, revelando o quanto esses padrões de plural são bem avaliados pelos baianos independentemente de serem as estratégias prescritas pela norma padrão.