“CIBERAXÉ”: REDES FORMATIVAS E DE DIFUSÃO DO CONHECIMENTO DO CANDOMBLÉ NO FACEBOOK
ciberespaço, candomblé, ciberaxé, difusão do conhecimento, subjetividades
Este trabalho estudou a difusão do conhecimento tradicional do candomblé através de diferentes plataformas digitais dedicadas a circulação e difusão de conteúdo do universo religioso afro-diaspórico, por nós denominadas de ciberaxé. Neste ambiente virtual, são compartilhadas as experiências religiosas de matriz africana criadas no Brasil. O conteúdo é difundido sob o formato de imagens, sons, textos e vídeos, (os laços desta rede), entre adeptos e simpatizantes (os nós desta rede) conectados numa nova ambiência de trocas e convivências. No ciberaxé se tem acesso a serviços religiosos, fotos e vídeos de rituais, dos adeptos, das comidas, dos objetos e vestuários sagrados, criam-se espaços de interação entre adeptos e simpatizantes para troca de saberes do culto, na denúncia e combate as violências e as intolerâncias sofridas. Esta pesquisa utilizou da etnografia virtual na plataforma do facebook, mais especificamente em um grupo, cujo participantes se dedicam a disseminação de conteúdo exclusivo do ciberaxé. A partir de critérios específicos da análise cognitiva, foram analisadas as postagens de cinco integrantes deste grupo. Além destes, escolheu-se uma influenciadora digital, que além de versar sobre temas do universo do ciberaxé, inclui em suas postagens situações de racismo, sexismo, machismo e demais problemáticas socioculturais vivenciadas pelas populações negras. Sobre elas aplicou-se os procedimentos de análise de discurso e da semiologia direcionada a signos linguísticos e não-linguísticos . A perspectiva teórica se apoia em autores/as dedicados a análises das transformações socioculturais, bem como, os sentidos imbuídas às produções das populações negras nas diásporas; assim como, reflexões sobre os impactos das tecnologias de comunicação virtual na sociedade atual, na perspectiva de diferentes áreas de conhecimento. Assim, conceitos de ciberespaço, virtualidade, cultura e subjetividade emergentes destas discussões são postos em diálogo com a compreensão teórica de Exu sob duas perspectivas: uma enquanto símbolo que representa a comunicação via ciberespaço, como sendo “boca que tudo come”. A outra como fragmentos de pensamento de um coletivo e tradutor de uma compreensão de mundo. A pesquisa mostrou que o ciberaxé se constitui em um novo espaço de sociabilidade e de produção de subjetividade individual e coletiva de seus usuários. Alguns diferenciais se evidenciaram na produção de mudanças na lógica tradicional de socialização e aprendizagem dos saberes sagrados nas comunidades de candomblé, ao mesmo tempo em que abre espaço para o tensionamento de práticas do culto consideradas tradicionais e, por vezes, inalteráveis. Isto implica na elaboração de novas posturas associadas ao desmonte sobre o território do segredo, implicando em novas formas de pensar a noção do que é público ou privado, bem como a releitura a respeito do sagrado, buscando envolver novas tensões entre os mais novos e os mais antigos destas comunidades.