CINESTESIA SOBRE O SERTÃO: A MEMÓRIA RURAL E A NOÇÃO DE URBANIDADE DA FEIRA DE SANTANA NO CINEMA DOCUMENTÁRIO DE OLNEY SÃO PAULO
Cinema documentário; cidade, Olney São Paulo
Sítio de trânsitos e trincheiras, das tropas que promoviam a logística entre o Sertão e o litoral, das transformações indissociáveis ao processo de migração nordestina, Feira de Santana é um terreno promissor de infindáveis investigações. Este estudo encara tal máxima e planeja apreender como se delineia e está representada a noção da urbanidade feirense na obra do cineasta baiano Olney Alberto São Paulo. Partimos da ideia, defendida por Raquel Rolnik (2009), de que a cidade é um organismo complexo, capaz de ser escrito e produzir significações e, para tanto, utilizamos da análise fílmica como um procedimento de investigação acerca de uma representação sobre ela, pois o entendemos como uma possibilidade de compreensão da urbe pelo viés das Ciências da Comunicação. Dois filmes nos serviram como corpus neste trabalho, os documentários Como nasce uma cidade (1973) e Pinto vem aí (1976) — ambos realizados e produzidos no referido município durante o período de franca industrialização e expansão da sua mancha urbana. Neles, nos debruçamos nos aspectos visuais e também sonoros para compreender aquilo que foi trabalhado pelo autor. Assim, buscamos por meio da análise interna, nos planos e pontos de vista, nas sequências e composições de quadros, nos enquadramentos, no conteúdo da narração e dos discursos, nos elementos arquitetônicos e sujeitos que estão em cena, uma apreensão das significações, os agenciamentos e a enunciação do discurso sobre o espaço. Nosso esforço se deu em decompor e interpelar as narrativas para interpretar Feira. O fôlego empregado aqui envolveu também referenciais teóricos a exemplo das noções acerca da memória e apagamento da ruralidade, desenvolvidas por Clóvis Ramaiana Oliveira (2011), o ideário em torno das representações, destrinchado por Stuart Hall (2016), e as considerações trabalhadas por Regiane Miranda Nakagawa (2017) ao tratar das explanações de Marshall McLuhan no que concerne à cidade como meio de comunicação.