ASSINATURA GEOQUÍMICA DA MATERIA ORGÂNICA NA BAÍA DE TODOS OS SANTOS: EVIDÊNCIAS DO ANTROPOCENO E SUAS IMPLICAÇÕES AMBIENTAIS
isótopo estável, carbono orgânico, carbono negro, hidrocarbonetos
Mudanças significativas no aporte ou no tipo de matéria orgânica (MO) podem resultar em alterações no nível de trofia do ambiente, no grau de labilidade, na liberação de contaminantes adsorvidos, bem como no armazenamento e na ciclagem biogeoquímica do carbono. Nesse contexto, a Baía de Todos os Santos (BTS) tem sido submetida a múltiplas atividades antrópicas com potencial de alterar a natureza e o conteúdo da MO sedimentar: indústria petrolífera, química e, secundariamente, urbanização. A reconstrução das variações históricas do carbono, nitrogênio e seus respectivos isótopos, hidrocarbonetos (alifáticos, policíclicos aromáticos e alquilados) e do carbono negro (BC) com base em registros sedimentares é significativa para a compreensão das emissões de poluentes de longo prazo, o rastreamento de fontes e o estabelecimento de estratégias eficazes para o controle da poluição. Ao comparar dois testemunhos de sedimentos coletados na região norte da BTS as variações históricas foram reconstruídas e comparadas com o desenvolvimento socioeconômico local. Em linhas gerais, os resultados indicam que os perfis temporais da MO depositada nos testemunhos podem diferir significativamente em uma pequena escala espacial. No testemunho T2, coletado mais offshore, os parâmetros analisados indicam melhores condições ambientais com fontes naturais de MO. As concentrações de carbono orgânico total - COT e nitrogênio total – NT variaram de 0,66 a 1,98% e 0,12 a 0,19%, respectivamente. O modelo de mistura isotópico mostrou uma contribuição marinha média de 70,23%, relativamente uniforme, com exceção do período entre as décadas de 1930 e 1980, quando houve um aumento da contribuição de marinho possivelmente associada à expansão de um banco de algas. Os baixos teores de ALCTOT (0,25 a 2,23 μg g-1), ∑ALI (0,36 a 2,90 μg g-1), HPATOT (7,62 a 354,45 ng g-1), HPAALK (1,11–77,50 ng g-1), associados à ausência de UCM, pristano e fitano, mostram pouco ou não há influência de contaminação por fontes antrópicas nas áreas da MO. Os índices diagnósticos indicaram as fontes pirolíticas como as principais fontes de HPAs no testemunho T2. Os teores de BC variaram de 0,0800 a 0,440 mg g-1 e foi produzido partir da queima incompleta de biomassa do tipo C4. No testemunho T4, as concentrações de COT (1,17 a 2,23%) e NT (0,13 a 0,26%) aumentaram ao longo do tempo, mas ainda indicam um sistema oligotrófico. O modelo de mistura isotópica mostrou mudanças nas proporções das fontes dominantes de MO, com o aumento gradual da contribuição terrestre (alóctone) a partir da década de 1950, provavelmente relacionado com mudanças no uso do solo. A partir da década de 1970, os teores de hidrocarbonetos em geral aumentaram de maneira abrupta alcançando o nível de poluição elevada, apesar da redução verificada nas últimas décadas. Nesse período, houve também uma mudança nas fontes de BC, com as contribuições da queima da biomassa dando lugar às emissões veiculares. A partir de 1980, uma clara assinatura petrogênica foi vista com a presença de uma mistura complexa não resolvida (nd para 349,94 μg g-1), concentrações aumentadas de ∑ALI (0,35 a 380,34 μg g-1), ALCTOT (0,25 a 5,84 μg g-1), HPATOT (3,05 a 1096,37 ng g-1) e HPAAlk (0,40 a 329,23 ng g-1). A partir da década de 1990 houve um aumento mais pronunciado nas concentrações de BC. Os efeitos da implementação de políticas ambientais para melhorar a qualidade da água da BTS começaram a refletir-se na qualidade dos sedimentos no início do século XXI.