O lugar da mulher é onde ela quiser: o engajamento político de mulheres com deficiência.
Pessoas com deficiência, ativismo político, gênero, interseccionalidade.
Ganhando novos rumos a partir da década de 70, a mobilização política em defesa dos direitos das pessoas com deficiência protagonizada por esses sujeitos foi um dos grandes responsáveis pela mudança da perspectiva teórica e política sobre o tema em todo o mundo. Apesar destes avanços e da reconhecida importância de mulheres ativistas com deficiência nesta trajetória, em âmbitos nacional e internacional, estudos afirmam que as mulheres com deficiência vivem pelo menos em dupla desvantagem social, por ser mulher e ter deficiência. Maiores taxas de desemprego, menores níveis de escolaridade, elevada ocorrência de casos de violência doméstica e menor participação social traduzem a opressão e discriminação existentes nas interações sociais dessas mulheres. Acreditamos que as repercussões da confluência de gênero e deficiência na trajetória de vida podem influenciar o engajamento político dessas mulheres e suas experiências de militância. Esta pesquisa teve como objetivo geral compreender as motivações e experiências de mulheres com deficiência relacionadas ao seu processo de engajamento político para garantia de direitos das pessoas com deficiência. Os objetivos específicos foram: (1) conhecer os elementos da trajetória de vida de mulheres ativistas com deficiência que sejam por elas identificados como motivadores para o início e/ou manutenção do seu engajamento político; (2) descrever a trajetória do ativismo de mulheres com deficiência em defesa dos direitos da pessoa com deficiência; e (3) compreender a experiência de mulheres com deficiência sobre a atuação feminina na militância em defesa dos direitos das pessoas com deficiência, tendo em perspectiva sua percepção sobre a mediação das relações de gênero nas dinâmicas dos espaços formais e informais de militância e suas implicações para a organização e agenda do movimento social. Foi realizada pesquisa qualitativa através dos dados produzidos a partir de entrevistas semiestruturadas realizadas com vinte e quatro mulheres ativistas com deficiência. Os relatos foram gravados, transcritos integralmente e submetidos à análise temática de conteúdo. As mulheres entrevistadas relataram trajetórias e experiências fortemente marcadas pelo capacitismo e discriminação por gênero em todos os aspectos da vida e de militância investigados. Neste espectro, as experiências com o capacitismo foram indicadas como a maior motivação para o engajamento político pela deficiência. O processo de engajamento das ativistas está diretamente relacionado à existência de uma compreensão identitária, crítica e social sobre a deficiência construída através da (re)elaboração de significados. Nas experiências de ativismo, as mulheres entrevistadas ressaltaram os benefícios pessoais e coletivos de ocuparem espaços de participação social como um ato de resistência. Faz-se necessária a realização de investigações científicas que se dediquem à investigação da temática, ainda pouco explorada pela academia nacional.